sábado, julho 04, 2015

MUTINY ON THE BOUNTY (1962)

REVOLTA NA BOUNTY
Um filme de LEWIS MILESTONE


Com Marlon Brando, Trevor Howard, Richard Harris, Hugh Griffith, Richard Haydn, Tarita, Gordon Jackson, etc.

EUA / 178 min / COR / 16X9 (2.76:1)

Estreia nos EUA: 8/11/1962
Estreia em Portugal: 18/12/1962


Descontando séries e filmes televisivos, existem 3 versões da conhecida novela de Charles Lederer e James Norman Hall. A original, de 1935, com Charles Laughton e Clark Gable, a mais recente, de 1984, com Anthony Hopkins e Mel Gibson, e esta, do início dos anos 60. Um factor comum aos três filmes são as belissimas interpretações dos personagens de Bligh e Fletcher. Todos os seis actores são bem representativos das respectivas épocas, talvez com Mel Gibson a ser o único a não se enquadrar no universo de "monstros sagrados" dos restantes. A minha dupla preferida é claramente esta, porque Trevor Howard tem um desempenho inolvidável e porque Brando... é Brando. O seu Fletcher Christian é-nos mostrado com contornos simples e contidos, longe do over-acting para onde por vezes o grande actor se deixava resvalar. Aqui as palavras são substituídas por olhares, expressões e posturas, que transmitem ao espectador todas as cambiantes da natureza do personagem. Destaco uma sequência admirável, aquela em que o Capitão Bligh ordena a Christian que regresse a terra para fazer amor com a filha do régulo. Este tinha ficado ofendido pela não consumação do acto sexual da primogénita com o oficial estrangeiro; acto esse, que o próprio Bligh tinha interrompido algumas horas antes...


O filme foi na altura da sua estreia um grande flop comercial, apesar de muitos críticos terem realçado a interpretação de Brando: «It takes some time to see it as a genuine essay in characterization and not as a misplaced caricature, but eventually it is the acting that matters, and here we have Brando at his most commanding» (Daily Mail); «The most remarkable and controversial feature of "Mutiny On The Bounty" is the perfomance of Marlon Brando as Fletcher Christian. From the moment Brando saunters on deck of the Bounty, escorted by two "ladies of quality" to kiss him farewell, it is obvious that he has decided to play his part as the ringleader of the ultimate mutiny in a highly original way. His voice is light and South Kensington in tone; his manner sardonic; and his dress at times seems to come straight from pantomine. The whole effect is richly comic: the perfumed dilettante dabbling in revolution and becoming slightly over-awed and hurt by what he brings about» (Daily Express); «The thing that makes Brando's perfomance heroic is that he is capable of charging his contempt with moral authority. Under the lazy skin one is always aware of a violent, affronted conscience. No actor alive can express such outrage. He is the one who holds the picture together» (The Observer).


À parte do excepcional elenco (não esquecer também Richard Harris) - surpreendente nenhum dos dois actores ter sido nomeado para o Oscar ou Globo de Ouro -, "Mutiny On The Bounty" apresenta-se um pouco desigual na sua estrutura fílmica, sobretudo na longa sequência da ilha que poderia ter sido encurtada, não realçando em demasia o lado folclórico da história. Mas compreende-se, até certo ponto, a necessidade de se mostrar o aspecto pitoresco do Thaiti, um destino paradisíaco sempre muito em voga. Nas conjecturas dos produtores do filme, essa "atracção" suplementar iria atrair mais público às salas, mas tais expectativas revelar-se-iam goradas, não tendo conseguido o êxito esperado.



A verdadeira "atracção" suplementar desta versão de "Mutiny On The Bounty" foi, na verdade, o romance surgido entre Marlon Brando e a protagonista feminina. Tarita Teriipia, uma filha de pescadores de Bora-Bora, era então uma criada de hotel de 19 anos e tinha sido contratada como bailarina para o filme. Durante algum tempo resistiu aos intentos de sedução por parte de Brando. Nas suas memórias, Tarita conta que quando o conheceu, não sentiu nada: «Para mim, o papel só significava um trabalho muito bem pago». Brando, que tinha o dobro da idade de Tarita, divorciou-se da actriz Movita Castañeda (que curiosamente tinha desempenhado o mesmo papel na primeira versão do filme), para casar-se com ela. Apesar de na altura Tarita ter assinado um contrato coma MGM, Brando impediria a sua então companheira de vir a desempenhar mais papéis no cinema. Queria-a em casa, a tomar conta dos filhos. Em 1966 comprou-lhe uma ilha a 20 minutos de voo de Tahití, que converteu no seu refugio privado. Tiveram dois filhos (um rapaz em 1963 e uma rapariga em 1970) e não viveram felizes para sempre: em 1972 cada um foi para o seu lado. Tarita não voltou a casar, estando a caminho de completar 74 anos de idade.


 - A sequência da chegada do navio ao Tahiti foi filmada no mesmo local onde tinha aportado o verdadeiro Bounty, em 1788. Construído de propósito para o filme (a primeira vez que tal aconteceu na história do cinema), o navio viria a afundar-se no Oceano Atlântico em 29 de Outubro de 2012, seis anos após ter sido usado de novo para a rodagem de um filme, "Pirates Of The Caribbean, Dead Man's Chest" (2006). Já o tinha sido, em 1990, no filme "Treasure's Island". Após a conclusão das filmagens, em Março de 1962, e durante 4 décadas, o navio seria objecto de visitas turísticas em S. Petersburg, na Florida.

- Hugh Griffith foi despedido durante as filmagens, devido ao seu estado de embriaguês permanente. É por isso que a sua personagem "desaparece" ao longo do filme. Na verdade, o seu comportanto atingiu tais limites, que o actor foi proibido de regressar ao Tahiti para a rodagem das cenas finais.

- Richard Harris aceitou desempenhar um papel secundário no filme, só para poder trabalhar com Marlon Brando, por quem tinha grande admiração. No entanto, as relações entre os dois actores não seriam as melhores, o que levou Harris a desabafar mais tarde: «It was a nightmarish and a total fucking disaster».


- Último filme de Lewis Milestone. Depois deste, o realizador só rodaria alguns episódios para a TV, incluidos nas séries "The Richard Boone Show" e "Arrest And Trial", em 1964.

- A cena final foi filmada exactamente um ano depois do início da rodagem do filme.

- Para além de improvisar constantemente nos diálogos com Trevor Howard (facto que levava este ao desespero), Marlon Brando chegou a tapar os ouvidos com algodão para não ouvir as deixas do seu interlocutor.




3 comentários:

José Luís disse...

Espero que seja o teu regresso à actividade.

Rato disse...

É isso, desta vez é que é. Já tinha saudades...
Apesar de amanhã ir para o Algarve 10 dias, no regresso vou começar a postar com alguma frequência.
Abraço e obrigado

José Luís disse...

Ainda bem, também tinha saudades...
Um abraço.

José Luís