terça-feira, setembro 08, 2015

SLIDING DOORS (1998)

INSTANTES DECISIVOS
Um filme de PETER HOWITT


Com Gwyneth Paltrow, John Hannah, John Lynch, Jeanne Tripplehorn, Zara Turner, etc.

UK-US / 99 min / COR / 
16X9 (1.85:1)

Estreia nos EUA: 26/1/1998 (Sundance Festival)
Estreia em PORTUGAL: 18/9/1998


What if one split second sent your life in two
completely different directions?

Nunca acreditei em Deus. Não por qualquer tipo de educação (tive um pai ateu e uma mãe católica) ou influências externas, mas tão sómente pela irracionalidade do conceito em si. Sou uma pessoa muito pragmática, para quem dois mais dois serão sempre quatro. E nunca consegui aceitar qualquer tipo de crença ou religião, que se encontram para lá da minha compreensão da lógica das coisas. Pela mesma ordem de razões, também nunca acreditei no destino. As vidas das pessoas regem-se por probabilidades e sobretudo por decisões pessoais. Existem factos que não podemos controlar, é certo (se, por exemplo, a revolução do 25 de Abril nunca tivesse acontecido, quantos milhões de vidas teriam sido diferentes? Para o melhor ou para o pior, não é isso que está em causa, mas seguramente diferentes). Por outro lado, é nas decisões do dia-a-dia que mudamos a forma de viver as nossas vidas. Se tivesse ficado solteiro ou casado com outra pessoa, se um dos nossos progenitores nos tivesse deixado prematuramente, se fosse viver para outro país qualquer, se em qualquer encruzilhada da vida tivesse virado à esquerda e não à direita... Existem sempre os "se", "se", "se", existem sempre as possibilidades de escolha. E este filme, "Slidind Doors", que Peter Howitt realizou em 1998, ilustra na perfeição o conceito da arbitrariedade que rege constantemente as vidas de cada um de nós.

Em Londres, uma publicitária chamada Helen (Gwyneth Paltrow) é despedida da empresa onde trabalha e por isso regressa a casa mais cedo do que o habitual. Perde o metropolitano por uma fracção de segundo e devido a um problema técnico que irá retardar a partir dali todos os comboios, resolve ir apanhar um táxi. Mas como um problema nunca vem só, é assaltada em plena rua, ficando ferida na cabeça. O motorista leva-a ao hospital, onde irá ser socorrida. Tudo isto implica demora, e Helen chega tarde a casa, onde a espera o namorado, Gerry (John Lynch), aspirante a escritor (mas que entretanto vive à custa dela), que sai do chuveiro com um semblante algo nervoso e comprometido. Rebobinando agora o filme atrás: e se… e se Helen conseguisse apanhar o comboio a tempo? Nesse caso, e depois de um desconhecido  ter metido conversa com ela durante a viagem (um chato muito falador que a faz desviar constantemente a atenção do livro que tem entre mãos), chega a casa como previsto, ou seja, bastante mais cedo do que o habitual. Encontra de igual modo o namorado, só que este ainda não está à espera dela: encontra-se ocupado com uma bela morena entre os lençóis…

“Sliding Doors” vai-nos mostrar o que acontece a Helen depois de ter perdido (ou não) o comboio. A ideia não é nova, podemos encontrá-la no filme “Smoke / No Smoke” que Alain Resnais filmou cinco anos antes, em 1993. Mas enquanto no filme francês nos eram apresentadas as duas variações da história uma a seguir à outra, aqui o acompanhamento é feito em simultâneo. O actor Peter Howitt, que também escreveu o argumento, conduz esta sua estreia na realização com mão firme e eficaz, de modo a que o público nunca misture as duas situações (algo que facilmente poderia ter ocorrido). A traída Helen vai viver com a melhor amiga, Anna (Zara Turner) e inicia um novo relacionamento com o chato do metro, James (John Hannah), que reaparece na sua vida. A “outra” Helen, que não chegou a apanhar o namorado em flagrante, prossegue a sua vida normal, apesar das suspeitas de infidelidade irem aumentando. E aqui chegados, uma pergunta se impõe: será que mais tarde as “duas vidas em paralelo” de Helen irão conduzir a resultados muito diferentes? Talvez sim, talvez não, o melhor é respeitar todos aqueles que ainda não viram o filme, e deixar a dúvida no ar…

Mais do que uma simples comédia romântica, “Sliding Doors” poderá ser catalogado como um drama romântico, atendendo à natureza dos acontecimentos que se vão sucedendo. De qualquer modo, é um filme muito agradável de se ver, e que facilmente irá agradar a um vasto leque de público, do menos ao mais exigente. Por causa da qualidade dos actores, que conseguem fazer-nos acreditar naquela história bicéfala (Gwyneth Paltrow está magnífica, com a sua pronúncia inglesa, John Hannah é sempre alguém com quem simpatizamos – independentemente da personagem que incarna – e Jeanne Tripplehorn, no papel de Lydia, a amante americana, contribui para o filme nos seduzir um pouco mais, por causa daquele corpinho que Deus lhe deu. Já John Lynch está perfeitamente ajustado à sua mesquinha personagem. despoletando em nós a mais genuína antipatia); mas sobretudo porque coloca aquele grande ponto de interrogação nas nossas vidas, com que facilmente nos identificamos. Quem é que, nas mais variadas situações, nunca se interrogou: «e se eu tivesse feito isto e não aquilo? O que é que sucederia?» 
Vejam o filme, que dura apenas 99 minutos, mas espero, sinceramente, que vos desperte a curiosidade para ver a longa obra-prima de Resnais. Porque há que respeitar sempre os verdadeiros mestres.


Lydia: «Gerry, I’m a woman. We don’t say what we want, but we reserve the right to get pissed off if we don’t get it. That’s what makes us so fascinating. And not a little bit scary.»

CURIOSIDADES:

- John Hannah foi parcialmente responsável por “Sliding Doors” ter sido feito. Os produtores não conseguiam arranjar o dinheiro necessário, mas, por um feliz acaso, Hannah encontrou Sydney Pollack, que se mostrou muito interessado no argumento, resolvendo participar também como produtor.

- Gillian Anderson (a actriz da série “Ficheiros Secretos”), chegou a ser equacionada para o papel de Helen.


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